Foi por acaso, acabei de colocar outra cadeira na varanda (do lado oposto ás outras) e sentei-me nela!
Comecei a fumar o meu cigarro e o olhar levou-me, sem querer, para a tua estante dos livros, Princesa. Ali fiquei eu parado, pensativo, nostálgico talvez... quase como que abri novamente os olhos e pensei, tantos livros e eu que em toda a minha vida, só li um (um livro a sério claro) e porque mo ofereces-te!
Não gosto de ler, gosto de falar. Não gosto de ler, gosto de escrever. Não gosto de ler, gosto de abraçar. Não gosto de ler, gosto de rir, Não gosto de ler, gosto de não fazer. Enfim sou eu, se não fosse assim não seria EU.
Bem adiante, pensei eu, ou o cigarro pensou por mim, já nem sei... não tenho com quem falar, escrever já não é igual, não te posso abraçar, já não riu da mesma forma e não fazer nada... não fazer nada não é solução para o resto da vida. Tantos livros! Porque não pego num qualquer e começo a ler? Pode ser que resulte!
E foi assim que aconteceu, como era habitual dizeres...
Bem, não foi um qualquer e até foi.
Quando dei por mim, por impulso ou porque o cigarro acabou, estava eu de joelhos em frente à estante a dar uma passagem de olhos pelos títulos, a ver se algum deles me sugeria alguma coisa...
O que me saltou logo ás vistas tinha por titulo "Antes de Adormecer", pensei eu, até seria adequado, visto que adormecer tem sido e continua a ser, o meu calcanhar de Aquiles. Até pode ajudar.
Foi exactamente assim que foi escolhido, não fazia a mínima ideia de que género de livro se tratava, apenas vi que foi oferecido a Ti pela amiga O., no teu aniversário de 2011.
Isto aconteceu em 27 de Julho, só sei porque o registei no meu diário/agenda, de outra forma nunca mais me lembraria, sou mau de mais com datas.
Fui lendo meia dúzia de páginas de vez em quando, entre festas e férias também não houve muito tempo disponível, o D&S não deixam. Até que de repente, ia eu entre a página 70/80, o livro deu o clique e nos últimos 4 dias acabei de o ler, o que para um iniciante, terminar as 336 páginas não seria tarefa fácil. Mas, estava ansioso por saber como ia acabar e já só queria estar com o livro na mão.
...
Agora ao escrever este texto, saltei da cadeira por impulso, fui até à estante novamente, precisava de saber o que me tinhas escrito no livro que me deste em 24 de Março de 2010 e que li na nossas férias de Fuerteventura. O livro é Nenhum Olhar de José Luís Peixoto.
Este é que é o teu presente
"verdadeiro"!
Porque pediste
Porque mereces
Porque gostava que te apaixonasses
pela leitura...
Porque nenhum olhar é tão doce
como o TEU!
Um beijo,
Gostava de te ter pedido mais livros, para que sobrassem mais dedicatórias para ler, mais lágrimas para cair. Amo-te tanto!
...
A minha psicóloga diz, com alguma insistência, que acredita que nada acontece por acaso, acredita que o acaso não existe, embora as minhas reservas sejam muitas em relação a esta ciência (psicologia).
A verdade é que cada dia que passa, me vejo a concordar cada vez mais com esta observação, por varias coisas que fizeste e deixaste e que não interessa agora para este registo de justaguy.
...
O livro retrata a vida de uma mulher de cinquenta e poucos anos, que sofreu um ataque físico, violento, do seu amante, com o qual terminou a relação, que percebeu ser descabida porque amava o seu marido. Durante longos anos, sempre que acordava, não tinha qualquer memoria de quem era, como era, quem era a pessoa que dormia ao seu lado, do espaço físico, nada. Todos os dias ao acordar era um recomeço, não reconhecia sequer a ela própria.
...
Antes de Adormecer, é o meu sacrifício, o meu ataque violento, a sensação de que não vou fazer nada para a cama, não estás lá para conversar ou simplesmente para confabular sobre algo sem qualquer relevância, não estás lá para te abraçar (e como eu gosto de abraçar), não estás lá para te sentir, te tocar, te cheirar... o que vou eu fazer para a cama? Para que vou eu para a cama? Como posso ter vontade de ir para um local, onde nem dormir faz sentido se lá não estiveres?
Quando acordo, é um recomeço, com memoria claro! Todos os dias recomeço, continuando a minha aprendizagem de viver sem a tua presença, aprendo mais um pouco como habitar neste presente que magoa por ainda não ter perspectiva! Não, não me assusta saber que tenho muito que fazer até ser novamente noite, não me assusta ter que ser Pai e Mãe como diz a S., minha querida filha tão igual a Ti, não me assusta a casa ou o trabalho ou tudo o que tenho que pensar e preparar. Não. Não. Isso dói, mas consigo!
O que me assusta e tenho que aprender como viver, é o facto de não te ter...
...ANTES DE ADORMECER!
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